Entre os estudiosos da lírica galego-portuguesa
é comum afirmar que a cantiga de escárnio e
maldizer não passa de uma invectiva de caráter
pessoal desprovida de consequências morais ou
políticas abrangentes. Pretendemos demonstrar
em que medida a sátira galego-portuguesa também pode ser lida como instrumento de manutenção de uma dada hierarquia social, uma vez
que as cantigas satíricas lidam frequentemente
com a demarcação da fronteira entre as noções
de cortesia e vilania.